“Há alguns anos, eu enxerguei uma oportunidade de negócio bastante interessante e lucrativo. Não tinha ninguém fazendo aquilo na época, era algo inovador. Não era o produto em si, mas a forma de comercializá-lo seria nosso grande diferencial. Com a nova tecnologia que havia surgido, eu senti que era a hora certa para arriscar e exponencializar meus ganhos.
Inicialmente eu tentei trabalhar sozinho, mas isso se mostrou impossível. Eram muitos afazeres, conflitos de tempo e os resultados não aconteciam. Depois de um certo tempo, percebi que para dar certo eu teria que engajar outras pessoas. Mas quais pessoas eu engajaria? Após pensar muito, eu resolvi engajar meus filhos e também alguns amigos. Bom, foi assim que chegamos até aqui. Graças a minha visão e minha iniciativa naquele momento, hoje estamos bem posicionados no mercado e temos uma vida financeira confortável.”
É muito comum que empresas familiares nasçam de forma semelhante a esta. Na necessidade de engajar pessoas em seus projetos, os fundadores optam por empregar as que estão mais próximas. Inicialmente, esta pode ser uma estratégia bastante vencedora. Pessoas de confiança, equipes entrosadas, agilidade em tomar decisões e unir trabalho com a vida pessoal fazem o negócio em questão ser altamente competitivo. Entretanto, com o tempo e com o crescimento da empresa, o que era uma estratégia vencedora pode passar a ser uma grande dor de cabeça.
“O que te trouxe até aqui, não te leva até amanhã.”. Esta máxima do coaching traduz perfeitamente o momento em que a então fórmula do sucesso passa a ser a fórmula do desastre. Para que a empresa continue crescendo é necessário fomentar mudanças, renovar o espírito empreendedor, delegar tarefas e até mesmo decentralizar decisões. E aquele que por tanto tempo venceu na vida por liderar de forma autoritária, passa por uma grande crise em ter que passar o bastão.
O dono compreende que foram as suas decisões que levaram a empresa até aquele estágio de sucesso e que ninguém tomará decisões como ele. De fato, ele tem razão, ninguém tomará decisões como ele. No entanto, o novo cenário exige um novo espírito empreendedor, uma nova pessoa para levar a organização ao próximo estágio de crescimento.
Em geral, os donos conseguem entender esta necessidade racionalmente e até aceitam arriscar a descentralização, mas nas primeiras discordâncias de opinião o autoritarismo retorna e novamente assume o controle. Isso acontece quando o plano de sucessão não foi trabalhado com a profundidade que ele exige. A empresa é um sistema vivo, integrado, e substituir seu maior líder é um trabalho que deve ser preparado de forma sistêmica entre todos os seus principais líderes e pessoas coligadas. Por exemplo, neste plano devem ser trabalhados o fundador, o sucessor, as equipes que atuam com eles, os líderes das áreas coligadas e por aí vai. Todos os que possuem contato direto com estas duas peças deverão passar pela transição de bastão. Igualmente importante, é que este processo afetará diretamente a cultura organizacional, que também deverá receber atenção para sustentar a sua transformação.
Enfim, uma coisa é certa, as empresas familiares funcionam em um universo a parte no que diz respeito a cultura e desenvolvimento organizacional, pois ambos aspectos misturam o pessoal com o profissional. Nelas predominam os papéis informais e as relações afetivas.
COMO O COACHING PODE APOIAR EMPRESAS FAMILIARES
Bom, como citamos brevemente, empresas familiares possuem muitas necessidades especiais, sendo a maior parte delas desencadeadas pela natureza de suas relações pessoais, como por exemplo: Planos de sucessão; Gestão de mudanças; Cultura organizacional; Inteligência emocional; Relacionamentos; e outras. O profissional de coaching pode se especializar em uma ou algumas dessas demandas para apoiar a “profissionalização” da empresa e gerar resultados altamente satisfatórios.
Acredito que este seja um nicho bastante promissor e ainda carente de profissionais de coaching especializados.
TRÊS ORIENTAÇÕES PARA TRABALHAR COACHING EM EMPRESAS FAMILIARES
A primeira e principal orientação é: O Coach, deve atuar com uma metodologia balizadora especializada em ambientes familiares. Isso é imprescindível! Se o trabalho não contar com um profundo conhecimento e ferramentas norteadoras específicas, ele poderá ser “engolido” pelas demandas dos coachees e os resultados serão catastróficos.
A segunda orientação é: Levar em consideração os aspectos afetivos das decisões e ações tomadas pelo coachee em todas as sessões. É fato que em um ambiente desses as emoções estejam sempre supervalorizadas e precisem ser trabalhadas de forma profunda.
E a terceira orientação é: O Coach, deve desenvolver muito a sua empatia. Como citado no item anterior, a linguagem predominante nesta empresa é a emocional, pois, como é natural que o profissional esteja numa postura racional por conta da condução do trabalho, isso poderá levá-lo a negligenciar o peso das emoções nas decisões a serem tomadas pelo coachee. Se policiar para compreender todo o ecossistema afetivo é a chave para o sucesso neste trabalho.
Em resumo, empresas familiares são um universo à parte. Por mais que sejam empresas e organizações de sucesso, geralmente sofrem bastante com problemas ligados a saúde das suas relações pessoais e resistência a mudanças. Nós, profissionais de desenvolvimento organizacional, devemos estar sempre preparados para apoiá-los em seus desafios e levá-los a novos patamares de saúde e crescimento.
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JOMAR FILHO é CEO da IN DESENVOLVIMENTO INTELIGENTE.
Psicólogo e Master Coach, atua há mais de 10 anos com desenvolvimento de pessoas e empresas.
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